27 de janeiro de 2013

A Mudança

Gente, comecei a escrever uma história e gostaria de saber o que vocês acham! Eu já escrevi muitas coisas, já tive muitas ideias, mas nunca nenhuma foi para frente. E essa está andando (por enquanto). Espero que vocês gostem! E que eu consiga ir até o final com essa história!

Por favor deem suas opiniões do que vocês acharam, se gostaram ou não! Qualquer coisa pode ajudar!


1. A Mudança

            Eram quase quatro horas. Uma noite como outra qualquer. Eu me revirava na cama tentando achar uma posição confortável para dormir, mas era quase impossível — eu estava com insônia.
            Fazia pouco mais de uma semana que eu não conseguia dormir direito, desde que me mudara para meu novo apartamento. Quer dizer, não tem nada de errado com meu novo lar. Eu e minha família havíamos nos mudado para uma cobertura no Morumbi. O apartamento é maravilhoso e sua vista é incrível. De um lado, conseguimos ver praticamente nosso bairro inteiro, que é muito bonito; do outro lado, a vista do meu quarto, dá para um imenso gramado, cheio de flores espalhadas. Eu adoro o grande contraste entre o jardim, a favela instalada ao lado e os prédios maravilhosos, o que faz minha vista ser ainda mais fantástica. O único detalhe é que as flores desse imenso jardim cobrem túmulos, e o gramado é um cemitério.
            Eu nunca achei que teria algum problema em morar ao lado do cemitério. Para mim, o cemitério só é o lugar onde tem gente enterrada, pessoas que estão mortas. Nunca acreditei em fantasma, nem em nenhum tipo de monstro que vive em cemitério. Quando minha mãe e meu padrasto resolveram se mudar, me perguntaram muitas vezes se teria problema, para mim, morar ao lado de um cemitério.
            Meu irmão foi o mais empolgado com a história. Ele queria mostrar para os amigos que veria o cemitério a noite, não teria medo e, quem sabe, até visitaria os mortos quando desse meia-noite, o que não passava de alguma coisa para falar e se exibir para os amigos. O pior de tudo foi que assim que chegamos ao apartamento, ele implorou para que eu trocasse de quarto com ele, indo para um quarto sem vista para o cemitério. É claro que não via nada demais no meu quarto, eu dizia para mim mesma que a vista era de um lindo jardim, o que não deixava de ser verdade.
            Mas eu não me sentia tão segura quanto parecia. Logo que cheguei no meu quarto, fechei a janela e tentei não pensar no que eu poderia ver do outro lado. Mas a curiosidade venceu meu medo e, logo a noite, quando supostamente seria a hora mais sombria, eu resolvi dar uma olhada. Não sabia o que eu poderia ver, já que não achava que os corpos saíam dos túmulos e também não acreditava que alguém viria ao cemitério em uma noite escura e com a lua tão cheia como hoje — De fato, não vi nada. Então simplesmente me deitei na cama olhando para o teto. Deixei a janela aberta, para o quarto ventilar um pouco. Foi nesse momento que eu ouvi.
            Ouvi uma voz de homem, uma voz bonita, grossa e parecia que era de alguém bem seguro de si. Achei que vinha de cima, o que era normal, dando que eu morava em um prédio. Mas foi então que lembrei que morava na cobertura — a voz estaria vindo do meu apartamento. Logo pensei que poderia ser algum amigo do meu irmão, que talvez estivesse conversando com ele. Então tentei dormir. Mas a voz continuava lá — e parecia que estava conversando sozinho, o que era estranho. Resolvi ir até o quarto do meu irmão, para ter certeza de que ele não conhecia a voz.
            Abri a porta do corredor, e fui em direção ao quarto dele. Abri a porta delicadamente, para não acordá-lo, mas parece que meu esforço foi em vão — assim que abri a porta, ele começou a gritar, pedindo para que eu não o machucasse — acho que alguém estava com pesadelos. Percebi que era melhor não comentar com ele, quer dizer, se ele já estava passando a noite mal, não queria piorar as coisas. Mas, logo que percebeu que era eu, ele já mudou o tom de voz, para um tom mais agressivo — o tom de voz que sempre usava comigo:
            — Diga, Anna, o que é que você está fazendo no meu quarto à essa hora da noite?
            Eu não tinha percebido o tempo passar. Olhei para o relógio do lado da cama de meu irmão, e o relógio já marcava duas horas da manhã.
            — Ah, desculpa... Só queria ver se você estava acordado.
            Eu achei que devia estar ouvindo coisas... Quem sabe a voz não vinha do andar de baixo? Era possível. Mesmo assim, não tive coragem de subir para garantir que a voz não vinha de meu apartamento. Resolvi voltar para meu quarto e tentar dormir. Tentar esquecer o que tinha acontecido e tentar agir como se tudo estivesse normal. Provavelmente no dia seguinte, eu conseguiria dormir melhor, sem vozes, sem nada que me assustasse. E para garantir isso, deixei a janela fechada durante o dia. E durante a noite. Mesmo assim, eu conseguia ouvir. A mesma voz, segura e bonita. Fiquei com medo de novo, e minhas noites de sono foi atormentada por essa voz linda durante mais de uma semana. Inclusive hoje.